Arte

Rui e a caricatura 
          Poucos homens na história do Brasil foram tão caricaturados como Rui Barbosa.             Sua primeira charge conhecida, de autoria de Ângelo Agostini, data de 1879, e foi publicada na Revista Ilustrada. Desde então, diversos outros artistas do seu tempo, como J. Carlos, Raul, Kalixto, Seth, Storni e Bambino, procuraram realçar, cada qual a seu modo, a cultura, a inteligência e os aspectos físicos de Rui Barbosa. Por ocasião das comemorações do centenário do seu nascimento, em 1949, o pesquisador Herman Lima lançou o livro "Rui e a caricatura", um extenso levantamento da vida pública do personagem através do traço de diversos 


Poucas pessoas apareceram tanto em caricaturas à sua época como Rui Barbosa. Talvez tenha sido também um dos personagens mais caricaturados da história do Brasil. Entretanto talvez ele não se importasse ou achasse que isto era consequência de sua vida como homem público. Em sua casa em Botafogo, hoje uma casa museu existe uma "caricatura" que ele mesmo guardava em um comôdo, em local de destaque, feita com um moringa de barro.

Em caricatura de época, Rui Barbosa é mostrado fazendo longos discursos em Haia, numa conferência mundial de paz, onde se destacou com brilhante atuação.
My Sweet Home e Baby | O Primeiro Tropicalista?
Rui Barbosa foi um grande estudioso da lingua Portuguesa e também membro fundado da Academia Brasileira de Letras. Entre 1893 e 1895, Rui Barbosa esteve exilado em Londres, onde segundo alguns, muito se identificaria com o Liberalismo Político Britânico, glorificando-o como examplar, chegando a usar expressões do tipo "onde o direito é mais seguro e a liberdade é mais perfeita" para tecer elogios rasgados ao Liberalismo Político Britânico.
Certamente ele estava certo em muitos pontos, pois se tratava de um sistema com leis avançadas para a época, mas provavelmente o escritor e autor de teatro Oscar Wilde, condenado pouco tempo antes, certamente não concordaria tanto.
Este exílio de Rui Barbosa ocorreu após o mesmo ter participado como ministro da fazenda do primeiro governo provisório da então República recém proclamada. Curiosamente, o sistema jurídico e o regime de governo Britânico, ao qual ele tecia elogios era é ainda é uma Monarquia Constitucional, diferente do regime Republicano que ele lutou para implantar no Brasil, derrubando uma Monarquia Constitucional aqui no Brasil. Mas certamente o sistema brasileiro garantia muito menos direitos aos cidadãos que a Monarquia Constitucional Britânica.
De volta ao Brasil, Rui Barbosa não temia usar alguns termos em Inglês no seu dia a dia. Chamava sua residência de verão em Petrópolis de "My Sweet Home" (meu Doce Lar) e chamava uma de suas filhas de "Baby".
Interessante que muitos anos depois, outros Baianos estiveram exilados em Londres, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, membros da Tropicália ou Tropicalismo, um movimento cultural que mesclava a cultura popular nacional com elementos da cultura pop e estética estrangeira, com muita influência da Inglaterra ao tempo dos Beatles. Era um movimento não xenofobista, que mesclava ritimos tradicionais com instrumentos de som elétricos e eletrônicos, tendo os tropicalistas feito algumas letras de música em Inglês.
Destruição de Arquivos | Fins Nobres Justificam os Meios?
No ano de 1890, em 14 de dezembro, Rui Barbosa então Ministro da Fazenda do primeiro gabinete de governo, que veio à seguir após a proclamação da republica, ordena a queima de todos os documentos de registros de posse sobre movimentação patrimonial acercad de escravos, tendo esta ordem sido executada durante sua gestão e a de seu sucessor.
Com alegação estava o nobre fim de apagar da memória a mancha da escravidão, certamente um período abominável.
Entretanto alguns dizem que o objetivo da medida de Rui Barbosa era apenas inviabilizar a possibilidade de calcular indenizações pleiteadas por antigos proprietários de escravos, indenizações estas pagas pelo estado. O motivo desta inferência se baseia no fato de que, 11 dias decorridos da abolição, existiu um projeto de lei encaminhado à câmara propondo ressarcimento de prejuizos causados com a medida.
Certamente o motivo alegado por Rui Barbosa é nobre, e certamente não seria produtivo para a nova ordem do pais, desviar dinheiro para pessoas que já haviam se beneficiado da exploração do ser humano, e ainda desejavam indenização.
Mas não seria ainda mais nobre, ter feito isto em "pratos limpos"? Sem transgredir a justiça, justiça esta que tanto Rui Barbosa exaltava. Não seria mais interessante fazer um decreto ou propor uma lei, no sentido de que, ninguém poderia clamar indenização por conta de exploração de trabalho escravo?
E por outro lado, a destruição de provas ou dos arquivos, também não retirou dos ex-escravos as possibilidade de posteriormente reinvindicar indenização ao estado ou aos que exploravam a mão de obra dos mesmos? Certamente naquela data os libertos não tinham suficiente força para tal pretensão e talvez nem articulação. Mas uma possibilidade futura foi fechada com a destruição dos arquivos.


O Epitáfio

Foi o próprio Rui Barbosa quem escreveu seu epitáfio para a pedra de seu túmulo. E talvez isto exprima sua vida e seu testamento político.
"Estremeceu a Justiça; viveu no Trabalho; e não perdeu o Ideal."