Rio -  Após amargar um vergonhoso penúltimo lugar no ranking nacional do Ensino Médio em 2009, o estado do Rio saltou 11 posições no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), subindo para o 15º lugar em 2011, com nota 3,2, à frente do Distrito Federal.
O bom desempenho na avaliação do Ministério da Educação (MEC) foi seguido pelas escolas da Prefeitura do Rio, que passaram da 9ª colocação para a 5ª posição, nos anos finais (6º ao 9º ano do Ensino Fundamental). No primeiro segmento (1º ao 5º ano), a cidade subiu um degrau: do 5º para o 4º lugar.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
‘A escola é especial’, elogia a aluna do Ciep Glauber Rocha Karen Costa, 11. A escola obteve 8,5 no Ideb, garantindo o primeiro lugar entre as 1.749 escolas públicas do Estado do Rio | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Apesar dos avanços e da meta de colocar o Rio entre os cinco melhores estados em 2014, só 41% das escolas públicas fluminenses alcançaram média superior a 5 no Ideb nos anos iniciais. No segmento do 6º a 9º ano, o resultado foi ainda pior: só 8,8% ‘passariam de ano’. O Ideb é o principal indicador da qualidade do ensino brasileiro, de 0 a 10, que leva em conta índices de aprovação, abandono e pontuação dos estudantes em Português e Matemática na Prova Brasil.
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Situado na Pavuna, região carente e ainda sob o domínio do tráfico de drogas, o Ciep Glauber Rocha obteve 8,5 no Ideb, garantindo o primeiro lugar entre as 1.749 escolas públicas do Estado do Rio, para turmas de 1º ao 5º ano. O desempenho é bem superior à média nacional, que é 5. Em todo o Brasil, o Ciep só ficou atrás de duas escolas, em Itaú de Minas e Foz de Iguaçu, empatadas com 8,6.
“Para uma escola de uma região com um dos IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixos, o segundo lugar tem gostinho de ouro”, afirmou a secretária municipal de Educação, Cláudia Costin. Para ela, a melhora se deve a programas de reforço, currículo mínimo e provas bimestrais.
Foto: Arte O Dia
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O resultado também foi comemorado pelo secretário estadual de Educação, Wilson Risolia. “Não foi obra do acaso, mas consequência de muito trabalho. Valeu a pena!”, festejou o secretário, que atribuiu o avanço a pacote de medidas adotadas no último ano, como valorização do magistério, avaliações bimestrais (Saerjinho), currículo mínimo e investimento na infraestrutura das escolas.
Rede estadual: 90 colégios entre os piores
Escolas estaduais de Goiás e do Rio foram as que alcançaram mais posições no Ideb, passando de 3,1 para 3,6 e de 2,8 a 3,2, respectivamente. O bom desempenho, porém, não foi acompanhado por grande parte da rede pública fluminense, que continua na lanterna. Das 100 piores do 6º ao 9º ano no Rio, 90 pertencem à rede estadual — 10 são municipais.
Segundo Risolia, a maioria das escolas que tiveram fraco desempenho é compartilhada com o município e funciona à noite. “Há a questão da segurança, que afasta alunos, e o transporte. Muitos chegam tarde e saem cedo das aulas para não perder o ônibus”, analisa. Entre as 100 melhores do segmento, são 30 estaduais, sete federais e 63 municipais.
O secretário ressalta que uma das razões para o bom desempenho da rede estadual é a redução da evasão (de 16,5% em 2009 para 14,4% em 2011): “Percebemos que a variável ‘abandono’ contribuiu com 77% na melhoria da taxa.”  Já o ministro Aloizio Mercadante ressaltou que o desafio do Ensino Médio é modificar o currículo.
Família, livros e mestres são receita do sucesso em Ciep
Presença da família, estímulo à leitura e professores dedicados. A mistura desses ingredientes é a receita de sucesso do Ciep Glauber Rocha, na Pavuna. Uma mudança comandada há 17 anos pela diretora Ioliris Paes Alves. Em 2005, a unidade tirou 4,9 no Ideb. Dois anos depois, alcançou 5,2. Em 2009, atingiu a meta imposta para 2021, com 6,7, ultrapassando o patamar europeu de 6.
“Era uma instituição desacreditada. A comunidade depredava, arrombava e saqueava”, relembra Ioliris. A transformação veio com o primeiro passo. “Implantamos um projeto pedagógico com ênfase na leitura, e a comunidade foi integrada através de eventos e reuniões mensais. Hoje, a escola não sofre com pichações nem ataques”, continua Ioliris, com orgulho. A escola, que só tinha oito professores, hoje conta com 70 profissionais, 80% em horário integral, além de voluntários.
Oferece aulas de artes, inglês, religião, esporte, cultura e lazer. “A escola é especial”, diz a aluna Karen Costa, 11. Ioliris pensou em parar este ano, pelo cansaço, mas não conseguiu: “Os pais pediram para ficar. É a minha missão”.
Escolas públicas de área rural de Cambuci no topo do ranking nacional
A segunda melhor escola pública do País e melhor unidade do Rio no segmento do 6º ao 9º ano fica na zona rural de Cambuci, no distrito de Monte Verde, a 295 km da capital. É o Colégio Waldemiro Pita, que alcançou 7,8 no Ideb.
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Colégio Waldemiro Pita, em Cambuci, é a melhor escola estadual no segundo segmento (6º ao 9º ano) | Foto: Divulgação
Outra escola da pequena cidade do Norte Fluminense faturou o terceiro lugar nacional — e segundo do Rio. É o Colégio Estadual Oscar Batista, no distrito de São João do Paraíso: obteve 7,7, acima da média da rede (de 3,2), e até das escolas particulares (5,7), cuja participação não é obrigatória.
“No interior, as famílias estão mais próximas da vida escolar”, avalia o secretário Risolia. No Waldemiro Pita, alunos participam de banda de música e tomam café da manhã reforçado, com pão feito na padaria da escola.
“Muitos acordam cedo e levam até uma hora para chegar à escola”, conta José Alexandre Maron, diretor da regional Norte Fluminense. Segundo ele, o sucesso é reflexo do trabalho conjunto entre pais, alunos e professores. “Quando um estudante falta, a equipe vai até a casa dele saber o que houve”, diz. No Oscar Batista, os alunos participam de saraus literários e aprendem Física, Química e Biologia em laboratório bem-equipado.